A principal causa dessa diminuição é o desmatamento para a criação de áreas de monocultura e pastagem, responsável por 56% do impacto. Segundo a pesquisa, 93% das bacias hidrográficas do Cerrado podem sofrer redução na disponibilidade de água. Isso é motivo de preocupação local, nacional e global, já que os recursos hídricos do bioma estão se tornando cada vez mais escassos. Além disso, mesmo com a escassez de água, o Cerrado continua exportando água através da produção de grãos e carne para a China, União Europeia e Estados Unidos.
O estudo analisou 81 bacias hidrográficas no Cerrado entre 1985 e 2022. A maioria dessas bacias já apresenta redução na vazão de água devido às mudanças intensas no uso do solo. Isso indica que o bioma está enfrentando uma tendência sistêmica de escassez de água e estresse hídrico, especialmente por causa da expansão da agropecuária de larga escala.

O desmatamento também tem um impacto significativo nas mudanças climáticas. Ele é responsável por cerca de 46% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil, o que intensifica secas e afeta a agricultura. As mudanças no uso da terra para a agricultura e pastagem estão diretamente relacionadas à escassez de água, já que 68% do consumo de água no país é feito pela agricultura e pecuária. O agronegócio é o principal responsável pelo desmatamento no Cerrado, que é o principal emissor de carbono no país.
A pesquisa também destaca a mudança na governança das águas no Cerrado. O controle das águas passou das mãos das comunidades locais e dos órgãos governamentais para as empresas do agronegócio, que desviam o fluxo hídrico para irrigação e exportação. Isso significa que a água do bioma não beneficia mais as comunidades locais ou a população brasileira, mas é controlada por grandes empresas do agronegócio.
As mudanças climáticas também têm um impacto na redução da vazão dos rios, mas o desmatamento é o principal fator isolado que interfere na segurança hídrica do Cerrado. Estudos indicam que as mudanças climáticas contribuem com 43% da redução da vazão, enquanto o desmatamento é responsável por 56% do impacto. Modelagens futuras também mostram que o uso do solo terá um papel ainda maior na redução da vazão dos rios do Cerrado.
A situação é preocupante, pois o Cerrado é conhecido como o “berço das águas”. Ele abriga nascentes importantes e fornece grande parte da água para rios que abastecem o Brasil e países vizinhos. Além disso, a escassez de água afeta diretamente a disponibilidade de energia elétrica no país, já que a matriz energética do Brasil é baseada em hidroelétricas.
Diante desse cenário, é necessário implementar políticas públicas específicas para o Cerrado que garantam a conservação ambiental e a proteção das comunidades tradicionais. É importante valorizar os biomas não florestais e promover uma política de transparência na cadeia de commodities para rastrear os produtos até a origem. Além disso, os países importadores e as legislações internacionais também têm um papel importante e responsabilidade na proteção do Cerrado. O futuro do bioma e a disponibilidade de água estão em risco, o que afetará tanto as comunidades locais quanto o agronegócio e a população brasileira como um todo.
Com informações da BBC.